quinta-feira, 21 de junho de 2012

O outro tempo!

Mais uma visita de trabalho, como tudo por aqui, o que se vê de fora não representa necessariamente o que se sente quando se entra.

Uma fábrica de confecções, a sensação quando entrei foi de ter passado um portal para o passado, directamente de 2012 para a década de 60 do século passado, tudo aqui permaneceu imutável, quase consigo garantir que as secretárias que se encontram no sombrio primeiro andar, numa sala de tal forma grande que as três secretárias que lá se encontram dispersadas, não são movidas desde uma qualquer altura remota. Dei uma espreitadela à fábrica, que desta sala se vê na sua totalidade, não fosse esta a sala da administração onde um olhar permanente de perspectiva superior tudo controla. As máquinas de coser numa azáfama constante, rodeadas de tecidos aos molhos prontos para serem devorados, estão alinhadas em filas de uma ponta à outra da fábrica.

Características da época colonial são uma constante, o cheiro a pó confunde-se com o inconfundível odor característico de África e dos africanos, tão marcantes para quem em África nunca tinha estado. Digo colonial como se tratasse de algo que conheço na primeira pessoa, não é o caso, apenas memórias de histórias contadas por pessoas que passaram por essa época ou lidas em livros de romance histórico.

A verdade é que sinto alguma nostalgia ao pensar em tudo o que li e que me contaram dessa época em que o colono teria um papel dominante, mas fraterno, dos seus colonizados. Fraterno como quem diz, porque de fraterno teria muito pouco ou seriam raras excepções.

Muitas vezes tento até às últimas das minhas forças ser o mais africano possível. O sentimento que tenho desde que cheguei a esta terra é que não é possível para quem vive num ambiente tão recuado no tempo entender o que se passa nas outras partes do mundo, como na Europa, e eu, que nunca de lá tinha saído, por mais que me esforce não consigo ainda colocar-me em posição de entender como funcionam as mentes destas pessoas que tão diferente realidade viveram até hoje.

Cheguei a Moçambique em Novembro de 2011, a noção completamente errada de que o mundo já é, mais ou menos todo igual, traiu-me de uma forma tão marcante que é difícil de explicar. A verdade é que por aqui nada é simples, ou melhor, acredito que é até bastante simples, mas as nossas complicadas cabeças não deixam que vejamos a simplicidade deste povo, Culpa nossa acredito! com tantas manias de arrumação e tantas regras para cumprir, aqui deparamos com esta realidade desleixada como se nada fossa realmente importante, esta forma de viver, é a forma deles viverem, não há quem a possa mudar, na verdade até seria criminoso que mudasse. Não a entendo do meu ponto de vista europeu, mas compreendo e aceito que para um povo que sofreu durante tantos anos os dissabores de uma guerra civil dilacerante, agora que são livres e vivem em relativa estabilidade, queiram aproveitar todos os segundos como se fossem os últimos. Não deveríamos ser todos assim?

Fico por aqui hoje!

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